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Nós, humanos, também
trazemos marcas da evolução
no nosso corpo.

Charles Darwin e Fritz Müller procuravam vestígios da evolução nos seres vivos como prova
da sua existência. Numa época pré-genética e sem a ajuda da tecnologia, podiam até estar
enganados quanto a algumas explicações e misturar fenômenos que hoje se distinguem.
Mas nisto, tinham razão: as marcas da evolução permanecem – no DNA, que carrega todas
as informações sobre como somos constituídos, herdadas das gerações anteriores. Nos
vertebrados, como nós, essas marcas podem estar numa parte do corpo que já perdeu sua
função original, noutra que só existe enquanto somos embriões, ou naquelas que só
aparecem em alguns poucos indivíduos porque, em casos raros, o mecanismo que deveria
frear seu desenvolvimento ou bloquear sua expressão falhou.

Quer ver como os humanos podem puxar a um tatatataravô?

Ed Uthman, MD

Cauda

Herdamos uma cauda dos nossos ancestrais mamíferos. Ela desaparece nas primeiras semanas de gestação e torna-se o osso cóccix, sobre o qual você se senta, graças a um conjunto de proteínas que controla a expressão desse gene. Nos raros casos em que o controle falha, por alguma mutação nos genes envolvidos, a estrutura continua a se desenvolver e a pessoa pode nascer com uma cauda de verdade.

Jonathan Harford | CC BY-NC 2.0

Dentes do siso (terceiro molar)

Sabe aquele último dente, lá de trás, que incomoda muita gente? Nossos ancestrais pré-históricos precisavam dele para mastigar alimentos crus e duros. Aprendemos a cozinhar, o cérebro cresceu, a mandíbula diminuiu. O quarto molar, que vinha ainda depois dele, desapareceu. Mas o terceiro, já sem tanta função, continua a disputar espaço com os outros dentes, na maioria dos humanos.

Ildar Sagdejev | CC BY-SA 3.0


Arrepio

Nossos folículos pilosos, que produzem pelos, estão ligados a pequenos músculos. Os primatas, como outros mamíferos, eriçam os pelos quando estão com medo, para parecem maiores; ou com frio, para que o ar se retenha e os mantenha aquecidos. Aqueles pelos se foram, mas a reação do arrepio ficou.

Macaca fascicularis. André Ueberbach | CC BY-SA 2.0
Thomas Woolner. In DARWIN, C. The Descent of Man, And Selection in Relation to Sex.
New York: A. L. Burt Company, 1874.

Tubérculo de Darwin

Essa protuberância na orelha, que Darwin descreveu em A Descendência do Homem e a Seleção em Relação ao Sexo (1871), é bastante comum entre nós. Estrutura semelhante está presente em outras espécies de primatas com ancestrais comuns, ajudando-os a dobrar e movimentar as orelhas para melhor captar o som. Você consegue mexer as suas? Seus tatatataravós precisavam dessa habilidade, já que não podiam girar a cabeça tanto quanto você.

Olek Remesz | CC-BY-SA 2.5

Apêndice

Essa pequena estrutura no nosso intestino só é lembrada quando inflama, numa crise de apendicite. Está presente há milhões de anos nos mamíferos – segundo Darwin, ajudando nossos ancestrais a digerir folhagem. Um em cada 100.000 humanos nasce sem ele. Mas, engana-se quem, como Darwin, pensa que ele se tornou inútil para nós. O apêndice é um reservatório de bactérias que auxiliam na digestão e um centro produtor de linfócitos, nossas células de defesa. Com toda essa vantagem evolutiva, ele não poderia desaparecer.

Thomas Godart, 1886. St Bartholomew's Hospital Archives &
Museum, Wellcome Images. | CC BY 4.0

Politelia (mamilos supranumerários)

Durante a gestação, nós, mamíferos, desenvolvemos vários mamilos ao longo de uma linha mamária que vai da axila à raiz da coxa. Alguns animais nascem com vários deles. Nos humanos, costumam restar apenas dois. Mas em algumas pessoas – a maioria, homens – essa involução não acontece por completo, e os indivíduos nascem com três ou mais mamilos. Esses não representam risco à saúde e, frequentemente, são confundidos com verrugas ou pintas.