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Conectados
Do que depende um (futuro)
cientista? Veja quanta coisa
contribuiu para os feitos
científicos de Fritz Müller e
de
Charles Darwin!
Não se faz ciência sozinho MESMO! As
conexões
que a tornam possível vão muito além de uma
rede de cientistas e envolvem todos os
setores
da sociedade: famílias, comunidades,
organizações da sociedade civil, empresas e
governos. Ao longo de toda a vida, Fritz e Darwin
encontraram estímulos e oportunidades para
desenvolverem e aplicarem suas competências
na área que tanto os entusiasmava, embora
também
enfrentassem algumas dificuldades
(principalmente Fritz, afastado fisicamente dos
grandes
centros e dos círculos científicos da
época).
Infraestrutura e serviços
A pesquisa e a difusão de ideias no século 19 seriam impossíveis sem os
serviços de
edição, impressão, tradução de publicações e, especialmente,
os de correio, que
se agilizavam na Europa, graças à crescente malha
ferroviária. Fritz, com
maiores limitações em Santa Catarina, contou com a
ajuda dos amigos que viviam
no exterior para publicar e distribuir seus
trabalhos.

Vapor Progresso, o primeiro
transportar passageiros e pequenas cargas de Itajaí a Blumenau, a partir de
1879.
Antes, era somente de canoa ou carroça. | Todo Dia Blumenau - "História - O
Destemido Vapor
Progresso", 2014. Por Carlos Braga Mueller/Arquivo Adalberto Day.
Instituições científicas
Universidades, sociedades científicas como a Lineana e a Real de Londres,
e
publicações como a Nature, por exemplo, foram fundamentais para
divulgação e
discussão dos estudos dos cientistas naturais. Fritz ainda
encontrou no Rio de
Janeiro o Museu Nacional, dedicado ao tema, que o
contratou. Darwin se beneficiou
do Jardim Botânico Real de Londres
(Kew), com sua enorme variedade de plantas
do mundo todo.

Palácio de São Cristóvão
(c.1862), sede do Museu Nacional a partir de 1876. | Augusto Stahl
(1828–1877) -
Lago, Bia Corrêa do; Corrêa do Lago, Pedro. Coleção Princesa
Isabel: Fotografia do século XIX. Rio de
Janeiro: Capivara, 2008, p.106.
Tecnologia
O trabalho de Fritz e de Darwin parece não depender da tecnologia. Mas
pense nos
microscópios; nas estufas que permitiam cultivar plantas
tropicais na Inglaterra e
nas recém-criadas estufas portáteis em que elas
eram transportadas para a Europa;
na máquina a vapor que agilizou o
transporte; ou na imprensa, na fotografia e nas
técnicas que baratearam
sua reprodução em livros. Como câmeras eram caras e nada
práticas,
ficamos com os lindos desenhos de Fritz.

1.Experimentos de Guillaume
Duchenne com estímulos elétricos e fotografia. 2. Darwin usou as imagens
em A
expressão das emoções no homem e nos animais (1872). | 1. Duchenne du Boulogne,
G. The
Mechanism of Human FacialExpression, 1862. 2. Digitalizado da versão de
1965, publicada pela University
of Chicago Press. Via Wikimedia Commons.
Educação
Fritz e Darwin contaram com boas instituições de ensino, acesso a livros,
grupos
de estudo e, no caso de Darwin, professores particulares.
Estudaram em universidades
prestigiadas, como as de Berlim, Greifswald,
Edimburgo e Cambridge, e tiveram
oportunidades de prática e todas as
condições para desenvolverem suas habilidades
e curiosidade. Fritz ainda
aprendeu idiomas que lhe permitiram falar com Darwin e
trabalhar aqui –
gostava e tinha muita facilidade com eles.

Universidade de Berlim,
Prússia (futura Alemanha), onde Fritz se formou em filosofia. | A. Carse. Berlin
und seine Kunstschätze, Payne Leipzig und Dresden, c. 1850.
Financiamento
No caso de Darwin e de Fritz, os recursos para viver e pesquisar se
misturavam.
Darwin vivia confortavelmente dos subsídios e investimentos
da família, além da
venda de livros, e podia adquirir as melhores
ferramentas e serviços. Fritz não
tinha os mesmos privilégios, mas recebia
remuneração como professor concursado do
Estado, ou como naturalista
da província ou do Museu Nacional. Vivia com
simplicidade, refletida em
seus instrumentos. Muitos textos e materiais de
pesquisa eram cortesia de
colegas.

Clientes no salão da marca
Wedgwood, c. 1809. Josiah Wedgwood, avô de Charles Darwin e de sua prima
e esposa
Emma, foi o líder da industrialização da cerâmica na Europa. | In The Repository
of arts, literature,
commerce, manufactures, fashions and politics. Londres:
Rudolph Ackermann, 1809.
Tempo para se dedicar
O britânico Alfred Wallace propôs praticamente a mesma hipótese de
Darwin, ao
mesmo tempo, mas não conseguiu desenvolvê-la tanto.
Darwin podia se dedicar porque
não precisava de um emprego e sua casa
tinha empregados – apenas a saúde
debilitada lhe roubava tempo e
disposição. Fritz também só conseguiu pesquisar
quando deixou a dura
rotina de colono para dar aulas na capital. Além disso, no
século 19, não
cabia ao homem o trabalho doméstico, embora Fritz educasse as filhas.

Darwin Correspondence Project – DCP2807 – BROWNE, Janet. Darwin por Darwin (p. 158). Edição do Kindle.
Aceitação
Fritz sentiu-se perseguido na Alemanha, mas encontrou seu espaço no
Brasil,
apesar de sua presença ser desconfortável para alguns. Darwin
poderia ter
ficado de fora do veleiro Beagle por causa de uma crença do
capitão sobre a
forma do seu nariz (largo e achatado, de alguém sem
muita energia e determinação),
mas acreditaram que ele daria conta do
trabalho e, mais tarde, que suas ideias
tinham valor e eram mesmo suas.
Como homens, Fritz e Darwin sentiam-se
relativamente seguros quando
desacompanhados de mulheres na mata ou num navio
e podiam usar
roupas confortáveis para caminhar e pesquisar. Ninguém achava
que
aquele não era o lugar deles.

Posse das primeiras
mulheres aceitas na Linnean Society, Inglaterra, no início do século 20. |
"Linnean
Society of London: First Formal Admission of Women Fellows", de
James Sant, 1906.
Pessoas que abrem portas
Um professor de Darwin o indicou para viajar no Beagle, o capitão do
navio o
aceitou e um tio o levou até o porto. Fritz fez contatos na farmácia
do avô,
um ex-funcionário do estabelecimento o convidou para sua
colônia e o indicou
para o cargo de professor em Desterro. Ambos tiveram
amigos que os ajudaram com
contatos, materiais de pesquisa,
disseminação e defesa de seus trabalhos.

John S. Henslow, o professor
de Darwin na Universidade de Cambridge que o indicou para viajar no
veleiro
Beagle. | Thomas Herbert Maguire, 1851. Reproduzido em Makers of British botany, 1913.
Estímulo
Desde a infância, Fritz e Darwin tinham contato com a natureza, guiados
pela
família. Conviviam com naturalistas e interessados no tema,
conheciam histórias
inspiradoras de viajantes, viviam entre pessoas que
valorizavam a educação.
Quando Darwin foi convidado para viajar, seu pai
até questionou, mas acabou o
apoiando. Elogios como o que Darwin
menciona o acompanhariam ao longo da vida e
foram também
distribuídos por ele aos colegas.

DARWIN, Charles. Charles Darwin: Autobiografia (p. 13). Edição do Kindle.