Conheça os jardins de
Fritz Müller
e de Charles
Darwin.
E um bônus: o Jardim Botânico Real de Londres (Kew), que tem
uma
ligação especial com os dois.
“Muito obrigado pelos cinco tipos
de sementes: todas
germinaram, as mudas de Cassia me interessaram muito, e
ouso dizer
que encontrarei algo de curioso nas outras plantas.
Eu não lucrei sozinho, pois Sir J.
Hooker, que esteve aqui no
domingo, ficou muito feliz de ter algumas dessas
sementes
para Kew”.
(Charles Darwin a Fritz Müller, 24/07/1878).*
*Darwin Correspondence Project, “Letter no. 11626”, tradução livre.
O JARDIM DE FRITZ
Fritz Müller teve vários endereços em Santa Catarina. Foi em sua terceira casa em Blumenau,
onde passou seus últimos 30
anos, que ele se envolveu mais intensamente com a botânica.
Além das excursões pela província, contava com sua
propriedade junto ao Rio Itajaí-Açu,
a meia hora de caminhada do centro. Era coberta por floresta original, à qual ele
adicionava espécies que lhe interessavam para pesquisa. Fritz tinha palmeiras, mais de 50
espécies de bromélias da
região, orquídeas, figueira, cicádia, uma enorme araucária,
plantas da família do gengibre que lhe foram enviadas de Java*,
além de abelhas, cupins
e outros insetos. Quando estava em casa, fazia observações diárias e experimentos, nem
que
fosse às 7 horas da manhã do dia 25 de dezembro ou sob chuva. Em seu jardim, “...
cada planta é uma velha conhecida”*,
disse. A propriedade sofreu diversas modificações
desde a morte do naturalista, e o que restou dela tornou-se o atual
Museu de Ecologia
Fritz Müller, com um acervo de animais taxidermizados e pertences de Fritz, entre outros
itens, que
esperam sua visita.
Veja algumas de suas plantas e experimentos no Jardim de Experiências da De
Repente, Extraordinária!
Essa história está aqui:
*West, David A. Darwin's Man in Brazil (p. 230-231). University Press of Florida. Edição do Kindle.
West, David A. Darwin's Man in Brazil. University Press of Florida. Edição do Kindle.
Zillig, Cezar, Dear Mr. Darwin: A intimidade da correspondência entre Fritz Müller e
Charles Darwin. São Paulo: Sky/Anima, 1997.

Casa e jardim de Fritz Müller em
Blumenau/SC, década de 1890.
Cinquentenário de Blumenau, 1900. In SCHMIDT-GERLACH,
Gilberto (Org.);
KADLETZ, Bruno Kilian; MARCHETTI,
Marcondes. Colônia Blumenau no Sul do Brasil.
São José:
Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. p. 65.

Propriedade de Fritz Müller à margem do Rio
Itajaí-Açu, Blumenau/SC, c. 1890-1893.
MÖLLER, Alfred (Ed.). Fritz Müller: Werke, Briefe und Leben,
vol. 3, Fritz Müllers
Leben. Jena: Gustav Fisher, 1915. p. 141.

Fundos da casa de Fritz Müller em 1929.
HOEHNE, F, C. Observações gerais e
contribuições ao estudo da flora e
fitofisionomia do
Brasil. Departamento
de Botânica do Estado, São Paulo, 1940.

A casa em 1931.
In DA SILVA, José Ferreira. “Fritz Müller: Bibliografia de um
grande cientista".

Entrada do Museu de Ecologia Fritz Müller
hoje, com as árvores Camellia
japonica,
cultivadas por Fritz.
Juceli T. Costa
O JARDIM DE DARWIN
A contribuição de Charles Darwin para ciência não seria a mesma sem sua
casa. Foram 40 anos na Down House, uma
propriedade rural de cerca de
73.000 m² perto de Londres, de onde desenvolveu suas ideias com
inúmeros experimentos
e contatos. Cultivava as mais diversas
plantas, como as insetívoras, orquídeas e espécies que recebia de
várias partes do
mundo – inclusive, de Fritz. Plantas tropicais?
Sem problemas! Ele tinha uma estufa climatizada com sistema de
caldeiras.
Criava pombos para estudar suas variações, media
o movimento do solo pela ação de minhocas para tentar estimar
a
duração de períodos geológicos, contava ervas daninhas que
apareciam e desapareciam para observar a luta pela
sobrevivência,
examinava as fezes dos galos alimentados com suas sementes
para estudar o papel das aves na migração
de plantas. Observava
a relação entre flores, abelhas, ratos e gatos. Tinha plantas
carnívoras na despensa, minhocas no
piano, trepadeiras na fachada.
Observava o comportamento de seus cães e de seus filhos pequenos.
A casa toda era um
grande laboratório, no qual contava com a ajuda
dos filhos para observações. E para processar tanta informação,
nada
como caminhar! Tinha um “caminho do pensamento”, que percorria
diariamente – 2 Km ao completar cinco voltas. Hoje, a
Down House
é um museu, que conserva tudo como no tempo de Darwin.
Essa história está aqui:
ENGLISH HERITAGE. Down House – Home of Charles
Darwin. https://www.english-heritage.org.uk/visit/places/home-of-charles-darwin-down-house/
PEARN, Alison. Darwin: All That Matters. John Murray Press. Edição do Kindle.

Down House.
Anthonyeatworld, 2007.

Estufa aquecida por caldeiras.
David P. Howard | CC BY-SA 2.0.

Interior da estufa.
Pam Fray | CC BY-SA 2.0.

O “caminho do pensamento" de Darwin,
dentro de sua propriedade.
Edward Grant, 2008.
O JARDIM BOTÂNICO REAL DE LONDRES (KEW)
O Jardim Botânico Real de Londres abriga a maior e mais diversa coleção de plantas e fungos do
mundo: atualmente, são
8,5 milhões de itens, incluindo mais de 27 mil espécies vivas. Convertido
numa instituição nacional em 1841, Kew se tornou
um modelo para os jardins botânicos que surgiam
por toda parte no século 19. Mais do que uma amostra da
biodiversidade mundial e um local de
passeio da classe média vitoriana, era um centro de referência para estudos
botânicos, cujas
funções incluíam o suporte à indústria do Império Britânico. O diretor na época de Darwin e
Fritz, Joseph
Hooker, foi mais um personagem “de peso” nas ciências naturais: coletou e
descreveu inúmeras espécies de plantas em
suas viagens por regiões como a Antártida, o
Himalaia e a Califórnia, e foi um dos grandes responsáveis por transformar a
botânica, um
passatempo amador, numa disciplina científica*. Era o melhor amigo de Darwin, com quem trocou
mais de
1.400 cartas e a quem encontrava pessoalmente. Tinha muitos contatos que enriqueceram os
intercâmbios de Darwin e
de Fritz e, regularmente, fornecia plantas que completavam o jardim da
Down House. Fritz também se correspondia com
Hooker e lhe enviava sementes e plantas – essas,
sobretudo, para que as espécies fossem identificadas. Kew ainda é um
lugar de pesquisa,
conservação, educação e lazer. O atual diretor científico, Alexandre Antonelli, é brasileiro.
*Essa história está aqui: Kew Gardens. The Story of Kew Gardens in Photographs: Joseph Hooker. https://www.youtube.com/watch?v=BOBnqp5vsXw

Foto: Richard Mcall | Pixabay.
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Foto: Pauline Mongarny | Pixabay.
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Foto: whatsthatpicture | CC PDM 1.0.
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Foto: Royal Botanic Gardens, Kew.
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Foto: Royal Botanic Gardens, Kew.
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Foto: Royal Botanic Gardens, Kew.
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Foto: Royal Botanic Gardens, Kew.
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Foto: Laura Nolte | CC BY 2.0.
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Foto: whatsthatpicture | CC PDM 1.0.
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Foto: Royal Botanic Gardens, Kew.
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Foto: Royal Botanic Gardens, Kew – Detalhe.
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Foto: Royal Botanic Gardens, Kew – Detalhe.
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P.S. NÃO SEI SE O
SENHOR SE
INTERESSA
POR PLANTAS, MAS
CASO SIM ...
(Charles Darwin a Fritz Müller, 10/08/1865)*
Foi assim, com o envio de trabalhos sobre trepadeiras e orquídeas junto com suas
primeiras cartas, que Darwin atraiu Fritz
para a botânica. Sim, Fritz se interessava!
Acabou sendo o assunto sobre o qual ele mais escreveu. Observava as plantas
em suas
caminhadas e, assim como Darwin, fazia experimentos no jardim de casa – muitos deles,
a pedido do próprio
amigo. Os dois trocavam sementes e parte das enviadas por Fritz
foi parar não só nos canteiros e estufas de Darwin, mas
também no Jardim Botânico
Real de Londres (Kew).
Não sabemos se você também se interessa por plantas, mas caso sim, aqui estão algumas
das espécies a que Fritz se
dedicou.
*Darwin Correspondence Project, “Letter no. 4881”.
Jardim de experiências